“Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento” (Ef 4,26b).

O passado faz parte da nossa vida e da nossa história, não podemos fugir dele e muito menos esquecê-lo. E não devemos viver somente dos acontecimentos ruins e marcantes do passado, que denominamos trauma, que é uma emoção forte negativa que marcou a nossa vida e gera consequências como medo, raiva, insegurança e muitos outros, pois existem muitos fatos bons e positivos que também fazem parte da nossa história.

É muito comum ouvir falar que aquela pessoa vive do passado, ou seja, que está presa às suas lembranças e não consegue seguir em frente, porque está amarrada e muitas vezes se sente encarcerada com fatos ou pessoas que fizeram parte da sua vida.

Os erros do passado devem ser primeiro encarados e depois precisam se tornar aprendizados. Tirar proveito dos erros é crescer como pessoa humana, é uma fase madura que nos faz melhor e que gera paz e equilíbrio.

O passado bom também deve ser lembrado para termos um sentimento de gratidão a Deus pelas maravilhas que realizou, mesmo que elas não façam mais parte do presente. Lembrar do passado próspero com felicidade e gratidão é a receita para olharmos para o presente não tão satisfeito, mas com otimismo e esperança.

Ressentir é continuar sentindo o que já passou, tendo a sensação de que tudo continua o mesmo, embora não seja verdade. É comum pessoas que já perdoaram, mas que não se desliga e não rompe, ficam com a sensação que não perdoou, porque fica relembrando e ressentido.

Quem vive do passado é uma pessoa geralmente cheia de ressentimentos, pois as situações, pessoas e fatos não saem do seu pensamento, elas estão alojadas nas suas emoções, são apenas lembranças, mas vivas. Ao ressentir, ou seja, reviver aquele momento ou lembrar-se com aquela pessoa, parece que tudo é real, que aconteceu hoje, mesmo que o ocorrido tenha se realizado há dez anos.

Quando perdoamos, muitas vezes fica a lembrança do fato ocorrido, é apenas a lembrança, pois não teremos amnésia, fica registrado na nossa memória, então precisamos da cura das nossas lembranças para nos libertarmos. Estas lembranças nos impulsionam a vivermos do passado, tanto das lembranças boas como das ruins.

A pessoa que vive presa no passado tem mais dificuldade em perdoar do que aquela que consegue viver o presente. Não é esquecimento, embora às vezes aconteça de nem nos lembrarmos de certos fatos ou pessoas, pois como diz o ditado popular: “a vida continua”. O fato de dar sequência na vida não significa que o esquecimento seja impunidade, mas maturidade e sabedoria para se ter uma vida saudável.

Na experiência da Espiritualidade da Renovação Carismática Católica, um bom e santo remédio para os ressentimentos, para aqueles que vivem presos no passado, é a oração de cura interior, que através da presença amorosa de Jesus pelo dom do Espírito Santo nos conduz para a conversão, onde somos libertos, compreendendo que estamos perdendo tempo em viver das lembranças do passado.

Continuar sentindo o que já passou é fazer a opção pelo sofrimento, desilusão, insatisfação e amargura. É sentir a dor várias vezes, sendo que ela ocorreu apenas uma vez.

Olhar para frente é nos dar a oportunidade de recomeçar embora muitas vezes temos medo, por isso acabamos por ficar presos onde bem ou mal temos segurança em uma situação definida. Quando seguimos em frente corremos o risco de nos machucarmos de novo e tantas coisas mais, pois é assim mesmo, a “vida continua”, mas com uma grande diferença se já estamos com Jesus, vamos agora segurar mais firmes em Suas mãos e continuar sem medo, pois Ele está no meio de nós.

Do livro: “A chave para perdoar: o Amor de Deus” de Márcio Múrcia.