“Depois disso, tornou Jesus a manifestar-se aos seus discípulos junto ao lago de Tiberíades. Manifestou-se deste modo: Estavam juntos Simão Pedro, Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que era de Caná da Galiléia), os filhos de Zebedeu e outros dois dos seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: “Vou pescar.” Responderam-lhe eles: “Também nós vamos contigo.” Partiram e entraram na barca. Naquela noite, porém, nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Todavia, os discípulos não o reconheceram. Perguntou-lhes Jesus: “Amigos, não tendes acaso alguma coisa para comer?” – “Não”, responderam-lhe. Disse-lhes ele: “Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis.” Lançaram-na, e já não podiam arrastá-la por causa da grande quantidade de peixes. Então aquele discípulo, que Jesus amava, disse a Pedro: “É o Senhor!” Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se às águas” (Jo 21,1-7).

Nesta passagem bíblica encontramos uma palavra que mostra o sentimento de Jesus: “amigos”, em relação aos discípulos e principalmente em relação a Pedro. Ele havia negado Jesus três vezes, e quando um amigo trai o outro as primeiras palavras são estas: “não sou mais seu amigo”.

Jesus não tem esta atitude, mesmo diante da infidelidade de Pedro ainda o considera seu amigo. Aprendemos com o mestre uma grande lição, não devemos condenar uma pessoa por um ato, por mais grave que ele seja. Na maioria das vezes foi só um ato isolado da qual todos nós estamos sujeitos.

O mestre olhou para Pedro lembrando de toda trajetória que realizaram juntos, dos momentos felizes e das dificuldades que enfrentaram nos dias em que caminharam na mesma direção, das afinidades e da amizade sincera que sempre tiveram. O fato de Pedro abandonar Jesus e negá-Lo foi um momento único diante dos três anos que conviveram juntos, Ele não jogou fora toda a história que escreveram juntos por um momento de fraqueza de Pedro.

Todos nós já passamos por uma experiência semelhante, ou estamos sujeitos a enfrentá-la no futuro, ou estamos vivenciando-a neste momento. Estamos, estivemos ou estaremos diante de dois caminhos a seguir; primeiro, esqueço a história escrita e fico com o fato ocorrido, rompendo com a pessoa e corro o risco de jogar fora a continuidade dessa história; lembrando que quando perdoamos ou somos perdoados e damos sequência a mesma história ela se fortalece e se torna consistente, o amor é consolidado. Ou podemos agir de uma outra forma, olhar para a pessoa e para a situação num todo, entendendo que o ser humano é passivo de erro, e que esta pessoa merece um crédito pela história que escrevemos juntos. O fato ocorrido não significa tudo o que a pessoa é, podemos retomar a nossa caminhada superando o fato ocorrido e dar mais valor a tudo o que já foi escrito e acreditar que vale a pena continuar a escrever esta história.

Pedro escolheu e teve uma atitude convincente ao saber que era Jesus, se lançou ao mar e foi ao Seu encontro. Por outro lado, também podemos pensar quando ofendemos alguém: “ele não me considera mais seu amigo”; mas não foi o que Pedro pensou, ele simplesmente acreditou que Jesus continuava Seu amigo e mergulhou nessa amizade.

A amizade, como qualquer outro tipo de relacionamento, é consolidada e fortalecida nos momentos de dificuldade e perdão e também é nessa situação que mais exige e se mede o grau de amizade que existe. É um termômetro, porque só quem ama de verdade consegue perdoar, pois o ato de não perdoar significa que o nosso amor ainda é imperfeito, imaturo e muitas vezes questionável.

Acredito pela própria experiência de Jesus que não há consolidação do amor sem dor, decepção, frustração e tantos mais sentimentos superados, e o perdão nos dá uma oportunidade, talvez a mais eficaz, para eternizar um verdadeiro amor, a amizade ou o relacionamento.

O encontro com Jesus através do perdão e com a Sua misericórdia é profundo, curativo e libertador, mas não fica atrás quando somos perdoados, por uma pessoa e mais ainda quando concedemos o perdão e mergulhamos no mais profundo da intimidade da nossa alma, com o Coração Misericordioso de Jesus.

Do livro: “A chave para perdoar: o amor de Deus” de Márcio Múrcia.